Mulheres à obra: cresce a presença feminina na construção civil

Quem disse que canteiro de obras é lugar apenas para homens? De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), de 2007 a 2018, o mercado de trabalho da construção registrou o crescimento de cerca de 120% no número de vagas ocupadas por mulheres, sendo registrado mais de 235 mil postos de trabalho assumidos por elas. “Há espaço para todas”, diz Márcia Cristina Santos da Silva, que trabalha há mais de 12 anos na área e foi a primeira mestre de obras mulher do Brasil.

 

Márcia Cristina foi a primeira mestre de obras mulher do Brasil. “Há espaço para todas”

 

Apaixonada pelo que faz, Márcia é um exemplo de que as mulheres são capazes de pisar com profissionalismo em uma obra. “Desde pequena era vidrada em obras e serviços pesados. Meu pai trabalhava na área e, muitas vezes, levava o almoço para ele e acabava ficando pra ajudar com pequenas coisas. Peguei amor”, lembra ela. Ainda que tenha trabalhado em comércio, como babá e em outros serviços, sua paixão sempre foi a construção civil, onde já atuou como ajudante de obra, auxiliar técnica e encarregada, além de ter encarado seu maior desafio: ser mestre de obra de uma grande construtora. 

“Ser convidada para ser mestre de obra foi o reconhecimento de todo o meu esforço e a amostra de que nós, mulheres, podemos assumir cargos importantes em uma obra. Fiz muitos cursos de profissionalização nesta área e até hoje busco aperfeiçoamento. E o caminho é este para quem quer seguir essa carreira: qualificação”, afirma ela. 

Liege trabalha, há 8 anos, na construção civil e é especializada em pintura de obra

Quem também optou em trabalhar na construção civil, até mesmo por inspiração na profissão do marido, foi a pintora de obras Liege Lacerda. Em 2012, começou a fazer cursos e a correr atrás de oportunidades de trabalho. “Estava sempre de olho nos cursos do Seconci-Rio, fiz alguns deles, e me interessei pela área de pintura, mas já fiz pavimentação e trabalhei como pedreiro na construção de um grande empreendimento imobiliário aqui, no Rio”, diz ela, que, atualmente, trabalha por conta própria, fechando contratos de trabalho temporário.

Sobre o preconceito no local de trabalho, levando-se em consideração que a profissão é estigmatizada como sendo masculina, Liege diz que, ao contrário, muitos a animaram a continuar na profissão. “Nós temos os mesmos direitos que os homens e, se alguém sofrer algum tipo de preconceito, deve seguir em frente e não dar ouvidos”, ressalta. 

Já Márcia Cristina sofreu o preconceito dentro de casa, com o marido que não aceitava a esposa trabalhando em obras. “Optei pela minha carreira e deixei o casamento de lado. No trabalho, felizmente, o preconceito reduziu bastante. No meu caso, sempre fui muito desafiada, não por parte dos gestores, mas por parte dos subordinados. Percebe-se que há admiração, mas também o preconceito”, diz ela, deixando um recado para as mulheres: “Pode ser difícil querer arregaçar as mangas, por conta do preconceito, mas lute pelo que você quer, imponha respeito, com respeito, e se qualifique para galgar na carreira”.  

Ajuda da Lei

O aumento do número de mulheres trabalhando na construção civil recebeu uma contribuição a mais: a Lei Estadual nº 7.875, de 2018, que definiu a reserva de, no mínimo, 5% das vagas de emprego na área da construção de obras públicas do Rio de Janeiro para pessoas do sexo feminino.

Pela Lei, a administração pública direta e indireta do Rio de Janeiro precisa inserir essa exigência em todos os editais de licitação de obras públicas e em todos as contratações diretas realizadas com o mesmo fim, sob pena de anulação do edital, se houver inobservância à regra.

 

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