Saúde mental do trabalhador ainda inspira cuidados em tempos de pandemia

Não é de hoje que se fala que a pandemia do novo coronavírus não afeta somente a saúde física das pessoas e mais especificamente dos trabalhadores. Um longo período de isolamento, questões que envolvem a sobrevivência familiar, demissões, cortes salariais, home office, “schooling”, afazeres, necessidade de novas aprendizagens, cargas horárias sem limites precisos e até o luto elevaram as consequências da Covid-19 a um novo patamar: das doenças mentais. O desafio é pensar em novas formas de se estar no mundo do trabalho hoje.

Esse não é apenas um receio, uma insegurança com relação à saúde do trabalhador, é uma realidade, conforme constatou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em pesquisa referente ao primeiro trimestre da pandemia que analisou o impacto na saúde mental de trabalhadores essenciais. Segundo o estudo, sintomas de ansiedade e depressão afetam 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais durante a pandemia de Covid-19, no Brasil e na Espanha. Mais da metade deles (e 27,4% do total de entrevistados) sofre de ansiedade e depressão ao mesmo tempo. Além disso, 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas; 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono; e 30,9% foram diagnosticados ou se tratou de doenças mentais no ano anterior.

Ricardo Pacheco, médico, gestor em saúde, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Saúde e Segurança no Trabalho (ABRESST), alerta que o emocional das pessoas tem sido fortemente abalado pelo isolamento social, as incertezas do futuro, a pressão para alcançar resultados, as dificuldades do trabalho remoto, entre outros pontos. “A pandemia tem sido muito prejudicial a toda a sociedade e os trabalhadores têm sofrido grande parte desses impactos. Por isso, agir e minimizar esse cenário é também uma responsabilidade das empresas, pois cabe a elas fomentar a saúde, segurança e qualidade de vida das suas equipes”, afirma.

Ainda de acordo com o médico, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também reconhece os impactos da pandemia na saúde mental. “Tanto que em março desse ano publicou um documento desenvolvido pelo Departamento de Saúde Mental, com mensagens de apoio e bem-estar de diferentes grupos-alvo. O intuito dessa ação foi promover o cuidado psicológico com a população mundial. Além das mensagens, o documento contém uma seção voltada aos trabalhadores. Isso acontece, porque as relações profissionais foram muito afetadas pela Covid-19, gerando, além das incertezas com a estabilidade do trabalho, a insegurança para sair de casa e trabalhar, ou mesmo a dificuldade para conciliar a quarentena em família e o home office”, relata Ricardo Pacheco.

Para o gestor, é importante que algumas adequações sejam realizadas para que esse “novo normal” funcione agora e no universo que teremos pós-pandemia. “A saúde mental deve ser um dos itens de maior preocupação por parte das corporações, que devem treinar seus líderes e explorar novas ações a fim de mitigar os impactos emocionais nas suas equipes. E claro, acompanhar de perto a saúde de cada indivíduo”.

Até 2030 a depressão será a doença mais comum no Brasil

No Brasil, segundo a OMS, 11,5 milhões de pessoas sofrem com depressão e, até 2030, essa será a doença mais comum no País.

A Síndrome de Burnout ou esgotamento profissional também vem crescendo como um problema a ser enfrentado pelas empresas e, inclusive, foi reconhecido pela entidade mundial de saúde como uma doença relacionada ao trabalho. De acordo com um estudo realizado em 2019, cerca de 20 mil brasileiros pediram afastamento médico no ano por doenças mentais relacionadas ao trabalho. Diante do panorama atual, a tendência é que essas questões se intensifiquem.

Para Ricardo Pacheco, as empresas buscam por resultados positivos e quando o colaborador se sente motivado e seguro, produzir com qualidade é algo natural, da mesma forma que profissionais insatisfeitos e estressados tendem a impactar negativamente o negócio. “Por isso, a saúde mental dos profissionais deve ser cada vez mais uma preocupação. É importante que o empregador tenha o interesse constante em saber como as pessoas, que são seu maior ativo, estão se sentindo. Esse cuidado cria vínculos e faz com que o profissional se sinta amparado. Compreender e respeitar os limites é essencial para um bom desempenho”, completa o médico.

Fonte: Portal Segs

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